generated by sloganizer.net

sábado, agosto 12, 2006

Drácula de Bram Stoker

As pessoas que me conhecem e mantiveram contacto comigo em 1993 ou de 13 de Junho a 20 de Outubro de 2005 sabem que eu tenho uma obsessão pontual com vampiros, causadora de alguns devaneios pouco saudáveis. Querer dormir num caixão, por exemplo. Coisas mórbidas desse estilo.
Ora tendo isto em conta, e dada a minha paixão por livros, era vergonhoso nunca ter lido O Grande Clássico, Drácula de Bram Stoker. Decidi resolver esta situação e... que dizer? Fiquei verdadeiramente surpreendida. O livro é um ASCO! Nunca na vida li nada tão mal escrito.
A tradução era intragável, especialmente no diálogo. O tradutor sabia que o travessão indica discuros directo mas parecia lembrar-se do caso só de vez em quando. Acreditem que é irritante. A pontuação também era uma abominação. Não sei se isto era culpa do tradutor ou do autor, mas não estou a ver um tradutor a mudar a pontuação como lhe apetece. Seja como for, "- Porque eu, sei." nauseou-me. E há muitas muitas outras da mesma raça...
Mesmo supondo que estas coisas eram culpa apenas do tradutor, mutilador de narrativas por excelência, o resto do livro continua a ser horrível e aí a culpa é mesmo de Stoker. Para começar decidiu escrever o livro todo em cartas, diários e telegramas. Isto podia não ser mau, mas é. Há certos detalhes importantes que são referidos apenas de passagem, incluindo alguns que podiam ajudar ao crescendo do terror e que acabam por não fazer nada.
O suspense é muito fraquinho, mas o desenvolvimento das personagem não fica atrás. Depois de ler a primeira parte, em que Jonathan Harker relata o seu encontro com o Conde, estava-me pouco marimbando para o destino desse Harker, e não porque não gostasse dele mas sim porque a narrativa não me levou a estabelecer qualquer tipo de relação com ele, nem com a maioria das outras personagens. O exemplo flagrante é o próprio Conde Drácula. Relativamente a um vilão parece-me que o leitor deveria sentir medo ou ódio, ou as duas coisas. Mas Drácula não inspira medo, nem ódio, nem nada de nada. Limita-se a ser o antagonista, que por acaso bebe sangue e é suposto ser a encarnação de todo o mal. Posso não ter um diploma nisto, mas sou da opinião que as histórias bem escritas estabelecem uma ligação entre leitor e personagens. Bram Stoker falhou.
Outra característica que as histórias bem contadas têm é a de nos darem a acção num crescendo, o conflito vai-se acentuando até chegar ao clímax, onde toda a trama se resolve. O maior problema de Drácula não é a resolução, apesar de essa também deixar muito a desejar, mas sim o suposto crescendo que a antecede, que consiste em capítulos e capítulos em que não acontece rigorosamente nada. Quando chega o fim da história o leitor já adormeceu... Bram Stoker voltou a falhar.
E isto que já disse nem sequer é o pior. É inadmissível, inacreditável, mas é verdade: Bram Stoker muda de tempo verbal como quem muda de camisa. Num parágrafo Van Helsing disse e no parágrafo a seguir Mina diz. Numa linha Jonathan Harker abre o livro e na seguinte fechou o livro. Como é que é possível?? Até os miúdos sabem que não se muda assim o tempo verbal sem mais nem menos, como é que um livro que ainda por cima é considerado um Clássico incorre num erro destes? Não consigo entender.
Em suma, Drácula é um livro perfeitamente abominável. A única coisa que o salva de ser uma experiência dolorosa é a história, que, verdade seja dita, é uma boa história. Devia era ter sido escrita por alguém que soubesse escrever... Stephen King seria a minha sugestão.

2 comentários:

T disse...

Acho que não lemos o mesmo livro... mas sim, o Gary Oldman é um drácula bem jeitoso.

SuntoryTime disse...

E não leste uma versão "edited by"? É que o Drácula está tão bem escrito que a maior parte das versões são revisões :rolleyes: Será que nas revisões o tempo verbal muda aleatoriamente?

Seja como for, fiquei com curiosidade sobre as tuas razões para gostares da escrita do Sr. Stoker.