generated by sloganizer.net

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Stranger Than Fiction (2006)

Naquela tarde, Filipa percorria o habitual caminho até casa depois de um excelente bocado no lugar mágico que dá pelo nome de cinema. Ao contrário do que era habitual, o seu pensamento não se detinha em coisas mundanas, como o monte de lixo a alguns metros do caixote, e nem mesmo reparava na estranha ocorrência de nenhum cão ter ainda ladrado furiosamente à sua passagem como se pretendesse decepá-la à dentada. Não, naquela tarde a mente de Filipa ocupava-se apenas de profundas cogitações sobre Stranger Than Fiction, ou se preferirem o inferior título português, Contado Ninguém Acredita, um filme de Marc Forster com Will Ferrell, sobre um homem que um dia acorda e descobre que uma mulher narra a sua vida.

Quando ainda se encontrava no princípio da sua jornada, bastante antes da desagradável subida que todos os dias insistia em existir a meio do caminho, não se tinha ainda desenvolvido no pensamento desta rapariga nenhuma teoria de valor sobre este filme. É seriamente complicado comentar seja o que for quando nos encontramos ainda enlevados pela genialidade do nosso objecto, por isso o leitor que não se apresse a fazer julgamentos sobre a capacidade de análise da nossa heroína. De qualquer modo, as conclusões não tardaram a chegar. De todas, a primeira e possivelmente também a menos relevante para o público em geral, será talvez o desejo que se instalou no coração de Filipa de produzir algo semelhante, qualquer coisa igualmente deliciosa e original, e, se as Musas estivessem de acordo, exactamente com o mesmo tom de gracejo que apenas aqueles versados no passatempo de contar histórias podem perceber.

Mas esses são pensamentos e desejos para outras alturas, nomeadamente alturas em que não se fazem exames, por isso deixemo-los no íntimo da nossa protagonista e concentremos a nossa atenção nas outras conclusões produzidas. Por exemplo, que Maggie Gyllenhaal provavelmente encontrou um génio da lâmpada e lhe pediu o poder da omnipresença cinematográfica. Ou que quem viu The Incredibles – Os Super Heróis vai certamente sorrir numa determinada cena. Ou ainda que Ana Pascal é certamente vegan, porque nenhuma personagem assim pode não o ser (e neste ponto é convenientemente ignorada a referência ao rolo de carne, que de qualquer maneira também não era muito importante).

Sim, Filipa estava no bom caminho dos comentários, mas, como diz o velho ditado etíope, nem tudo o que é bom dura sempre. Talvez a muito-pouco-amada subida tenha tido alguma influência, mas o facto é que as profundas reflexões sobre a maravilhosa história foram aos poucos ensombradas por uma súbita e terrível percepção: é o destino de todos aqueles que vêem muitos filmes adivinhar o final, ou pelo menos, ter um forte palpite. Esta conclusão, como certamente se pode imaginar, trouxe tristeza ao coração de Filipa. Estará ela destinada a nunca ser totalmente surpreendida no cinema? Apenas o futuro o dirá.

A jovem rapariga, estimulada por vinte minutos de caminhada e pensamentos, chegou finalmente a casa. Sentou-se de imediato ao computador, pronta a escrever um extraordinário elogio ao filme no seu blog, para que todos os seus leitores se vissem irremediavelmente possuídos de uma vontade inabalável de ir ver Stranger Than Fiction ao cinema mais próximo.

A página estava aberta. Os dedos agitavam-se por cima do teclado, querendo tocar as teclas. Mas nada acontecia.

Filipa levantou-se e deu uma voltinha pela divisão. Espreitou para debaixo da cama e viu dentro do armário. Em vão; a Musa não estava em parte alguma. Como todos sabemos, quando as Musas não querem ser encontradas ninguém as encontra mesmo, já dizia Platão. Assim sendo, fazendo bom uso do seu tempo e paciência, Filipa desistiu da brilhante crítica que ia escrever e foi antes ao IMDb votar 10. Não se espante o leitor com esta classificação, porque ao contrário do que alguns professores pensam, as notas altas são mesmo para ser dadas.

3 comentários:

p disse...

FILIPA CENSORA!

p disse...

oooh tenho mesmo que o ver!

SuntoryTime disse...

Só censuro spam e coisas que por um motivo ou outro não me agradam, como o teu primeiro comentário, que só não vou censurar porque se o fizer este comentário deixa de fazer sentido e isso é que não pode ser.