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sábado, fevereiro 10, 2007

Babel (2006)

Sete nomeações para Oscar, incluindo melhor filme e melhor argumento original. É por estas e por outras que acho que a Academia está senil. Não que Babel não seja um filme bom, até é razoável, e não que a história não esteja bem escrita, porque tirando uma coisa ou outra até está. No entanto... a palavra que aqui se adequa é "overrated".

Classificação? 7.5, arredondado para baixo. 7/10.


ESTE POST CONTÉM SPOILERS (e é grande que se farta)


Babel são três histórias que se entrecruzam: Japão, Marrocos e México. A história do México é a melhor na generalidade. Não há incoerências, e tem uma das cenas mais poderosas de todo o filme, quando a ama deixa os miúdos no deserto. A sensação de angústia nessa cena está muito bem conseguida. Thumbs up especialmente para o rapazinho, Nathan Gamble, pelo seu "I'm not staying here alone".

A história de Marrocos é interessante, e tem a outra Grande Cena do filme, quando o rapaz se entrega às autoridades. O filme levanta algumas questões sobre a diferença de culturas: que polícia é aquela que não hesita em disparar contra duas crianças, nem em espancar um casal, e que educação têm aqueles miúdos que acham que carros numa estrada são alvos perfeitamente aceitáveis para testar o alcance de uma arma?
Por último a história passada em Tóquio sobre a rapariga surda-muda, que dava um filme interessante se se explorassem melhor alguns aspectos, mas pareceu ser um bocado "metida à força". Apesar de ser a sequência em que se explora de uma maneira mais evidente o problema da comunicação, a ligação com o fio condutor de Babel é muito tremida, para não dizer muito pouco plausível.

Isto com a agravante de ser de todas a que tem o final menos satisfatório. Não o adivinhei, mas devo dizer que o final que eu tinha previsto era bem melhor: no papel ela contava a verdade sobre o assassínio da mãe pelo pai e depois atirava-se da varanda. Mas não. O que acontece na realidade não faz muito sentido. Porque mentiu ela ao polícia quando falou sobre a morte da mãe? E para além de nos deixarem pendurados no assunto dessa morte (afinal o que é que aconteceu?), deixam-nos pendurados também no conteúdo da carta, o que muito me irrita porque parece uma jogada ao estilo de Lost In Translation mas falhada.
O problema de Babel é que se propõe a fazer algo que não consegue. Não sei se foi intencional ou não, mas há pontas soltas demais para o meu gosto. Começando pelo México: O que é que aconteceu ao Santiago? E as crianças? Desaparecem sem mais nem menos e apenas temos uma explicação à la "deus ex machina": estão bem, encontramo-las. Mas o que eu quero saber é como é que eles ficaram no deserto, porque é que sairam daquele sítio e como é que os encontraram. Como já disse, a cena em que ela os deixa é uma das melhores. Havia ali potencial que devia ter sido aproveitado, quanto mais não seja para dar ao espectador um fim plausível para aqueles dois miúdos.

Quanto ao que se passa em Marrocos, das três ainda é a sequência que tem o argumento menos esburacado, mas compensa com as cenas desnecessárias, das quais é exemplo máximo a protagonizada pelo Peeping Tom Junior na montanha. Não que eu ache que só deviam ser nomeados para grandes prémios como os Oscares filmes "politicamente correctos", mas aquela cena não serve nenhum propósito no filme e devia ter sido cortada. Não acrescenta nada à personagem, porque o que havia para ser dito sobre a maturidade do rapaz já tinha sido dito precisamente na cena "Peeping Tom", e havia outras maneiras eficazes de separar os dois irmãos de maneira a que a cena seguinte se mantivesse.
Também acho que não preciso de dizer que a cena de reconciliação definitiva entre o casal americano se torna ligeiramente ridícula pelo facto de ela estar a urinar para dentro de uma panela: é o que se chama anticlimático. Outro pormenor interessante é o pequeno twist cronológico do qual nos apercebemos no final. Apesar de ser um momento "ah! giro", a verdade é que é um bocado confuso, e se formos a ver bem a coisa, não é assim tão brilhante quanto isso.
Mas Babel comete outro grande pecado. Já o disse uma vez, e torno a dizê-lo: não é admissível um filme, ou qualquer outro tipo de entretenimento, incluir crueldade animal. Os animais não são objectos, não são "adereços", não são algo que podemos usar como bem entendermos. Cenas explícitas de crueldade animal, mais que chocantes, são bárbaras e retrógradas.
A cena da brutal decapitação de uma galinha não acrescenta rigorosamente nada ao filme. Não aprofunda a caracterização de nenhum personagem e não avança o enredo. É, em suma, o que se pode chamar, "palha". É triste que se tenha sacrificado uma vida em prol disso, e de uma forma tão mundana ainda por cima. E nem sequer sabemos se foi aquele o único take...
A galinha decapitada não é o único exemplo, porque também no segmento de Marrocos a crueldade animal prossegue. A realidade pode e deve ser retractada, mas para se dizer "vida rural" não é estritamente necessário ter uma cabra esfolada pendurada por uma pata. Para o destaque que este"adereço" tem no ecrã, só tenho a dizer que é triste o desperdício de mais uma vida para tão pouco.

Babel não foi supervisionado pela AHA ou por qualquer outra entidade equivalente (lembram-se do famoso "no animals were harmed in the making of this movie"?), o que significa que os animais neste filme, foram, de facto maltratados. Esta razão sozinha é mais do que suficiente para me levar a desacreditar a Academia e Iñárritu.
Para terminar, resta-me dizer que o filme é mais longo do que o necessário. Se fossem eliminadas algumas cenas, e cortados alguns dos ramos do enredo, o resultado seria um filme melhor.

4 comentários:

p disse...

Babel foi um projecto demasiado ambicioso nas mãos de Alejandro Gonzalez Iñarritu. Para mim Iñarritu é um dos grandes realizadores da actualidade, mas o facto de Babel ter tido uma rampa de lançamento comercial gigantesca não abonou nada em favor do filme. Está demasiadamente hollywoodesco mas com laivos de cinema alternativo, querendo desta forma atirar-nos areia para os olhos. Não é um filme brilhante, ao contrário do fabuloso numero 1 da trilogia - Amores Perros - onde o efeito flashback tem muito mais relevância e importância no desenrolar do filme, e onde as estórias se entrecruzam de forma natural e não forçada, como é quase o caso de Babel.

No entanto, no verso da moeda, encontramos um filme muito bem conseguido no que toca à distinção entre culturas e ao problema de comunicação que dá nome ao filme (com certeza sabem que Babel foi o nome de uma torre que os homens quiseram construir para chegar ao céu, mas que não foi viável porque, segundo a Bíblia, Deus pô-los a falar línguas diferentes para que o projecto nunca chegasse a ser concluído - quem quiser ler mais sobre isto visite o post sobre o assunto no blog http://quiteabstract.blogspot.com).
Também é importante referir a angustia que o filme consegue transmitir, nomeadamente com cenas tao fortes como as da ama que deixa as crianças no deserto para procurar ajuda, a entrega do rapazinho à polícia em troca da salvação do irmão e o desespero de um marido para salvar a mulher ou a falar ao telefone com o filho. Há planos muito bons, a banda sonora também está adequada, as interpretações são irrepreensíveis e, claro, sem nunca esquecer o Iñarritu que, apesar das falhas, é um realizador de eleição. Sim, há pormenores que deviam ter sido mais explorados e outros que foram explorados demais, mas a audácia de fazer um filme sobre diferenças culturais não é para todos. E o título do filme é prova da inteligência por trás da camara. É claro que a sequência do México foi a melhor, não seria de esperar outra coisa de um mexicano. No entanto, retratou as outras culturas da melhor forma, marroquina e japonesa. Independentemente da história que envolve o filme, para mim o mais importante é o que se pode retirar do filme enquanto ensaio cultural. A grande metrópole japonesa em contraste com o deserto marroquino. O sítio onde há tudo e o sítio onde não há nada. O mais evoluído e o mais rústico dos humanos. No entanto, apesar das diferenças, todos temos telhados de vidro, independentemente das condições em que vivemos. Por tudo isto, Iñarritu já ganhou.

Quanto aos maus tratos animais, creio que a cabra já estava naquele sítio e fez parte de uma das cenas por esse motivo. A galinha..enfim, alguém a comeu depois! (desculpa, filipa, eu adoro-te)

Beijinho *

João Branco disse...

Como já te disse no MSN não gostei do que vi no Lusomundo do Dolce Vita de Coimbra...
Acho que vai ser uma das grandes desilusões dos Óscares deste ano, aquele tipico filme, muito nomeado, mas pouco galardoado, como todos os anos existe sempre uma pelicula do género.

Mas esperemos...

Bem, vou estudar " Law", e vou ouvir " The immaculate collection" da Maddona! Lol!

Cate disse...

Uns pontos bons, uns pontos maus, de facto. Talvez não seja o filme ideal para ganhar um óscar, mas penso que não deixa de ser um filme de qualidade.

A crueldade para com os animais também me faz impressão, mas não sei se o ponto de vista da Patrice quando à cabra não estará correcto. Não sei. De qualquer maneira, a maior parte das pessoas não se apercebe, durante o filme, se há animais que foram maltratados ou não, nem sequer considera essa hipótese, nem repare neles, praticamente, e isso é que não é lá muito bom.

Mas gostei do filme.

João G. disse...

Sem dúvida Filipa, axo k tens toda a razão no k disseste ao longo desta tua critica do filme Babel. De facto tb axo k ha algumas cenas k sao desnecessarias e cncordo no ponto em k dizs k a parte do japao dava um bom filme a parte s fosse mais explorada. Essa é capaz de ser a parte do filme k mais gostei, contudo axo k a ligaçao entre essa historia e as otras 2 n faz mt sentido, pois foi d facto metida la a força. Para ser sincero ate axo k a propria relaçao entre as 3 historias ta um cado fraca comparando com o filme "crash", no qual a historia esta mt bem conseguida e muito bem encadeada.
Apesar destes defeitos axo k o filme está bem conseguido s tivermos em causa as 3 historias individualmente e axo k o brad pitt mostrou ser um actor que esta cada vez mais a melhorar as suas kualidads na area.
Para nomeaçao pos oscares ate axo pertinente mas agr para vencer ja n acredito mt k seja isso k vai acontecer na proxima cerimonia de entrega de premios da academia.

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João Guilhoto