Isto porque ontem vi o The Hills Have Eyes (2006). Uma porcaria de filme!
Que mania é esta de só fazer filmes de terror com litros e litros de sangue, membros decepados, pessoas mutiladas, mais sangue, mais mutilação, mais violência? É uma tristeza. A maioria dos filmes de terror hoje em dia tem o esqueleto de uma história (quando o tem), e o resto é preenchido com sangue, violência e explosões. E o que resulta daqui é uma audiência feliz? Incompreensível. Como é que ontem ouvi uma miúda dizer "que fixe!", num tom da mais profunda delícia, quando um homem no ecrã estava a ser mutilado?
Esta geração tem as prioridades trocadas. Não tenho problemas com quem gosta de filmes com muito sangue e violência (apesar de não perceber qual é a piada...), mas revolta-me ver esta mutilação ao género. Terror é algo que assusta, qualquer cosia sinistra, do oculto, que mete medo. Não é sinónimo de violência gratuita!
Dantes todos os filmes de terror tinham uma dose de suspense que não podia faltar. Havia sempre uma história com pés e cabeça, com um desenvolvimento coerente (que hoje em dia seria considerado "lento" na maior parte dos casos), e o terror, fosse ele representado por espíritos, monstros, miúdos maquiavélicos, ou o que fosse, ia surgindo aos poucos, num crescendo até ao desenlace final.
Nos filmes de terror de hoje em dia o desenvolvimento das personagens é deixado para segundo plano. O suspense das duas uma: ou não existe, ou existe em versão bastarda, resumindo-se à dúvida: de onde é que vai sair o próximo louco com um machado? O choque já não vem das situações, mas sim da pura violência. O objectivo parece que deixou de ser "fazer um filme sinistro", para "vamos ver quem é que consegue enojar mais o público". Cenas explícitas de tortura, mutilação, morte, violência: onde é que isto é sinistro? Onde é que isto é assustador? Isto limita-se a meter nojo e a ser perturbador, mas perturbador apenas por ser excessivamente violento. Qualquer pessoa consegue imaginar duas horas de violência gratuita com uma história-fantoche a servir de desculpa. Mas quantos conseguem fazer duas horas de verdadeiro Terror?
Não digo que um filme com mutantes malvados, canibais e amigos de picaretas não meta medo. Mete, claro que mete. Toda a gente tem medo de sofrimento físico. Mas não é sinistro. Não é
creepy. É só nojento. Mas duas horas de nojo e repulsa não fazem um bom filme.
O que é uma cena de carnificina em The Hills Have Eyes
comparado com Nosferatu levantando-se do caixão, ou o grupo de crianças de Village of the Damned (original) a passearem-se pela aldeia? E quem é que prefere a tortura de Hostel à cena do lago em Let's Scare Jessica to Death, ou a distorção e dúvida sentidas em The Innocents? Cenas em que alguém é esfaqueado até à morte, ou leva com um machado na cabeça e saem os miolos todos, chocam no momento, e talvez até nos mantenham acordados à noite, mas não chegam aos calcanhares do medo causado por cenas que pelo contexto são tenebrosas, como a Ama a espreitar à porta do quarto do pequeno Joey (The Nanny). O pior é que esta ideia de que o Terror equivale a um banho de sangue está tão embrenhada nas audiências de hoje que é possível ouvir coisas como "Peeping Tom não é um filme de terror"...
Mas claro, não sejamos extremistas. Uma dose de violência não estraga automaticamente um filme. E nem tudo é mau nos filmes de hoje em dia. Há alguns que têm bons pontos de partida. Voltando ao The Hills have Eyes, acho que a ideia de se estar sozinho no deserto com um bando de mutantes loucos uma coisa mesmo assustadora. Mas tinham que estragar o filme com aquele sangue todo?? Parece que não aprenderam as lições dadas pelos grandes mestres... Vejam Os Pássaros, que é dos filmes mais sinistros que tive o prazer de ver, e digam-me: a violência faz alguma falta? Aquela imagem do recreio da escola coberto de corvos é mais assustadora que mil The Hills Have Eyes juntos.
E é aqui que me chateiam os remakes. Vão pegar numa coisa que era boa e transformam-na na maior carnificina possível. Juro que apedrejo alguém se o falado remake de The Bad Seed for para a frente... Viram o que o João Carpinteiro fez ao brilhante Village of the Damned: pegou num óptimo filme e estragou-o com violência excessiva e um
twist ridículo que supostamente tem a função de aumentar o elemento choque da história. Nem me dei sequer ao trabalho de ir ver o remake do The Omen.
Enfim. E ainda se admiram por eu "ver tantos filmes antigos"...